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Corrida pelo carro do futuro aproxima Detroit do Vale do Silício

Corrida pelo carro do futuro aproxima Detroit do Vale do Silício

19.01.2018

Mais de 4 mil quilômetros separam Detroit, a capital do automóvel, em Michigan, do Vale do Silício, região da Califórnia onde se concentram as maiores empresas de tecnologia do mundo. Mas a criação do carro do futuro, um objetivo comum entre esses dois polos, está reduzindo a distância entre eles. Os fabricantes de veículos reconhecem que sua indústria não conseguirá mais andar sozinha porque o carro também não existirá mais sem tecnologia. Mas, para não ficar dependente de seus novos parceiros no desenvolvimento dos softwares necessários para conectar os veículos, as empresas automobilísticas iniciaram uma verdadeira onda de compras de startups de tecnologia.

O movimento de aproximação entre essas duas indústrias tornou-se tão forte que os dirigentes das montadoras parecem mais interessados em apresentar seus planos na CES (International Consumer Electronics Show), a maior feira de tecnologia de consumo da América, do que no tradicional salão do automóvel de Detroit. Como de costume, a CES deste ano ocorreu em Las Vegas na semana que antecedeu o salão do automóvel de Detroit, que abre ao público amanhã. E foi ali que surgiram grandes novidades sobre as parcerias entre os dois setores.

Em Las Vegas foi anunciado pelo presidente da aliança Renault - Nissan, Carlos Ghosn, que nem apareceu em Detroit este ano, o plano de investir, nos próximos cinco anos, US$ 1 bilhão num fundo de mobilidade formado por startups, chamado de Ventura "A indústria automobilística não tem talento para o desenvolvimento de certas tecnologias, mas, ao mesmo tempo, as empresas de tecnologia não sabem fazer um veículo. E nesse setor escala é um coisa cara", afirma o presidente da Nissan para a América Latina, José Luis Valls. Segundo ele, para o setor interessa alcançar o maior desenvolvimento tecnológico possível ao menor custo. Daí a importância das parcerias.

A General Motors também investiu mais de US$ 1 bilhão na compra da Cruise Automation, uma startup de veículos autônomos da Califórnia. A última novidade da GM nesse campo é o Cruise AV, um veículo autônomo que já começou a ser testado nas ruas de São Francisco. O que mais chama a atenção no Cruise AV é a ausência do volante e pedais. "A eletrificação dos carros é algo irreversível e o veículo autônomo deixou de ser algo impossível. É nessa evolução que as empresas de tecnologia aparecem. Porque esse tipo de inovação exige o envolvimento de quem produz softwares", destaca o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga.

Foi também na CES, em Las Vegas, que o presidente mundial da Ford, Jim Hackett, anunciou uma parceria com a empresa de tecnologia Qualcomm para o desenvolvimento da ferramentas para a comunicação entre veículos e com sinais de trânsito, recursos essenciais para o automóvel sem motorista. A Ford também anunciou o plano de investir US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos na Argo Al, empresa de inteligência artificial para o desenvolvimento de um sistema de direção virtual para o veículo autônomo da marca, que será lançado em 2021.

Durante a CES 2018, Volkswagen e NVIDIA anunciaram parceria para i uso de inteligência artificial nos futuros modelos da montadora alemã. O veículo terá um assistente virtual capaz de reconhecer o motorista e destrancar a porta para ele, além de se antecipar às necessidades de seus ocupantes, aprendendo os hábitos de cada um, como ar-condicionado ou determinada estação de rádio ligada.

Com as inovações, é bem provável que o consumidor perca a fidelidade à determinada marca

A expectativa de que as novas gerações, aos poucos, vão perder o interesse pela propriedade de um veículo, as montadoras buscam parcerias também com o setor de serviços. No fim do ano passado, a GM lançou nos Estados Unidos uma ferramenta para fazer compras dentro do carro sem a necessidade do uso do celular. Desenvolvido junto com a IBM, o chamado Marketplace já tem parcerias com empresas como Starbucks e Dunkin Donuts.

"Se você tem o costume, por exemplo, de tomar café numa determinada rede, o sistema vai te avisar quando houver um ponto daquela rede no seu trajeto para casa por exemplo", afirma Pericles Mosca, diretor dos serviços que envolvem conectividade, compartilhamento e mobilidade da GM na América do Sul. "As possibilidades nessa área são ilimitadas", afirma o executivo que mostra como ele mesmo poderia, hoje, destravar o carro a quilômetros de distância do seu carro se por acaso soubesse que a filha ficou presa dentro dele.

Há poucos meses, a Ford e a Domino's Pizza iniciaram, nos Estados Unidos, uma parceria para pesquisar como será a entrega de pizzas em carros autônomos. Com os primeiros testes programados para acontecer na cidade de Ann Arbor, em Michigan, as duas empresas querem perceber qual será a reação do cliente que receber sua pizza em casa entregue por um veículo sem motorista.

Nesse tipo de inovação é bem provável que o consumidor perca a fidelidade à determinada marca de carros. É isso que preocupa o presidente mundial da Mercedes-Benz, Dieter Zetsche. "Quando alguém faz uma encomenda à Amazon.com, por exemplo, a expectativa é que o produto seja entregue no prazo não importa se por um Mercedes ou BMW", destaca o executivo. Para ele, a aproximação das montadoras com as empresas de tecnologia é natural. "Seríamos estúpidos se não percebêssemos a necessidade dessas parcerias", diz.

Meses atrás, Zetsche havia se mostrado mais pessimista em relação ao futuro da indústria automobilística diante da possibilidade de o setor um dia vir a sofrer concorrência de empresas da área de tecnologia. "Não consigo hoje saber quem serão meus concorrentes no futuro", destaca. Ao mesmo tempo, o executivo alemão acredita que, a despeito dos notórios avanços na eletrificação e desenvolvimento de veículos autônomos, o setor ainda vai passar um bom tempo produzindo motores a combustão. "Vamos continuar investindo em veículos elétricos. Mas não podemos abandonar veículos com motores que ainda serão uma realidade em muitas partes do mundo", destaca.

Foi também em Las Vegas que a Toyota anunciou novidades, como a decisão de colocar em sua linha de veículos o Alexa, assistente digital da Amazon, já usado para acionar, por comando de voz, aparelhos domésticos.

Mas, por outro lado, a exemplo de Zetsche, da Mercedes, o presidente da Toyota na América Latina, Steve St Angelo, também sugere cautela no entusiasmo geral em torno das inovações: "Você consegue imaginar um carro autônomo no meio dos corredores de motociclistas que existem em São Paulo?"

Fonte: Valor Econômico

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